Depoimentos
Tive uma bela surpresa ao conhecer o Unamérica, pois era um duo cantava canções de nossa Latino-américa com um sabor muito especial, podemos chamar de brasileiro, mostrando assim um caminho de integração para as diversas linguagens e sentires de nosso continente. Com apenas dois integrantes, realizava uma música plena, variada, ampla, cheia de matizes e sabores, onde brilhava a execução dos instrumentos de diferentes etnias e um trabalho vocal bem concebido e realizado. Tive o prazer de escutar minha canção Paz pra Nicarágua em gravação de seu disco, e só lamentei a produção escassa nos anos seguintes, compensada por uma atuação solidária constante. Nos últimos anos, coincidimos no disco autoral sobre poemas do cubano Tony Guerrero, que, junto a Pedro Munhoz, mais nos uniu neste já longo sendeiro de “americanidades”.
(Raul Ellwanger)
“Conheci Dão Real e Zé Martins ainda pelos idos dos anos 80, quando iniciavam esta jornada chamada Unamérica, em seu formato de duo. Trinta e cinco anos se passaram. Dos anos 2000 para cá, vez por outra, nos encontramos para algum projeto, alguma atividade, o que para mim é sempre uma grande satisfação. O Unamérica, ao longo deste período, manteve sua coerência musical, porque possui uma coerência política.
A música é uma linguagem direta e de disputa, os dois sabem bem disso e por isso mantem o Unamérica sem negociar seus princípios, pois acreditam na arte como ferramenta de construção e transformação. Minha saudação ao Dão e ao Zé, que seguem na trilha da canção, em tempos difíceis, cantando o amor, a solidariedade, respeitando as diferenças, entoando cantos de liberdade, empunhando bandeiras, com a coragem daquel@s que teimosamente não desistem de querer pintar o mundo de vermelho, tarefa a que eles também se dedicam.”
“Quando surgiu o Unamérica, nos anos 1980, achei muito legal a ideia de um Duo, como eles eram formados, trazendo pra nós a música latino-americana, do Uruguai, Argentina, Peru. Também com a introdução de instrumentos desses países. Me chamou a atenção o engajamento político deles, enraizados numa canção popular, tradicional, brasileira e mundial, que defende as causas sociais. O Unamérica pra mim representa isso. Tem uma formação única, não existem muitos duos cantando a música latino-americana, a música brasileira engajada.”
“Entre meados dos anos 1970 e o início dos 80, houve no Brasil um movimento de descoberta e valorização da música latino-americana. É de 1976, por exemplo, o espetáculo e disco Falso Brilhante, em que Elis canta Los Hermanos e Gracias a la Vida. Discos de Mercedes Sosa, Violeta Parra, Victor Jara, Quilapayun e outros são pela primeira vez lançados em nosso País. No Rio Grande do Sul, A Califórnia da Canção Nativa traz Atahualpa Yupanqui e Alfredo Zitarrosa. Em São Paulo, surgem dois grupos fundamentais: Tarancón e Raíces de America, mesclando músicos brasileiros e de países vizinhos também ocupados por ditaduras. Tudo isso motiva os jovens Dão Real e Zé Martins, de Sapucaia do Sul, a criar o grupo Unamérica, principal representante gaúcho do movimento de aproximação e unidade com os irmãos latino-americanos. Outros grupos vieram, mas o Unamérica, 35 anos depois, é o único sobrevivente daqueles dias em que se pregava e acreditava na unidade latino-americana. Talvez mais no que nunca, essa unidade se faz indispensável.”
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